Nos últimos anos, casos documentados de pessoas mortas e engolidas por pítons na Ásia chamaram a atenção para a capacidade dessas cobras ingerirem — e digerirem — presas tão grandes

Bruce Jayne, professor da Universidade de Cincinnati, nos EUA, demonstra o quanto uma píton pode abrir a boca para engolir a presa. — Foto: Divulgação/UC
O agricultor Akbar Salubiro, de 25 anos, que trabalhava em
uma plantação de palmas na ilha de Sulawesi, na Indonésia, foi engolido por uma
cobra. O caso trágico, que aconteceu no início do mês, trouxe à tona velhas
dúvidas: como uma cobra consegue comer uma pessoa? Quais espécies são capazes
de fazer isso? Esses ataques são comuns?
Em entrevista para a National Geographic Brasil, Lucas
Simões, biólogo e técnico em manejo de animais do Instituto Butantan, de São
Paulo, respondeu essas questões. Segundo ele, há algumas cobras que conseguem
ingerir animais muito maiores que elas, incluindo porcos, capivaras e jacarés.
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Duas espécies que têm essa capacidade são a píton-reticulada
(Python reticulatus ou Malayophyton reticulatus) e a
sucuri-verde (Eunectes murinus).
Apesar disso, Simões afirmou que o temor de uma cobra engolir
uma pessoa é mais um mito do que uma realidade em boa parte do mundo. “Só há
relatos documentados e registrados – inclusive com comprovação de fotos e
vídeos – envolvendo cobras pítons-reticuladas que consumiram seres humanos,
especialmente em áreas rurais do Sudeste Asiático”, apontou.
Em relação as sucuris, ele acrescentou que, do ponto de vista
científico, não há registros verificados de ataques letais a seres humanos e
nem evidências de que essa cobra tenha um comportamento predatório direcionado
à espécie humana.
O biólogo ainda ressaltou que os “casos em que
pítons-reticuladas se alimentaram de humanos são raros e se limitam a contextos
muito específicos, na maioria das vezes em áreas rurais onde há contato direto
com essa espécie no Sudeste Asiático”.
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Morte por constrição
Pítons e sucuris, embora não possuam veneno, exercem um papel de predadoras em seus respectivos ecossistemas. Ambas possuem adaptações morfofisiológicas altamente especializadas que permitem a elas capturar, matar e ingerir presas de grande porte.
Uma píton birmanesa com um cervo na boca no sudoeste da Flórida. — Foto: Ian Bartoszek/UC
“Após o bote, elas rapidamente enroscam seu corpo ao redor da
vítima e aplicam uma força muscular intensa. Diferentemente do que se pensa, a
morte do animal não ocorre por asfixia, mas principalmente por colapso
circulatório – a constrição interrompe a circulação sanguínea,
levando à parada cardíaca da presa em poucos minutos”, explicou o biólogo.
Ele completou que, para ingerir as presas, essas cobras “têm
ossos mandibulares bipartidos, o que lhes permite uma abertura bucal
extremamente ampla. Também há um espaçamento considerável entre as
costelas, que são flexíveis, e entre as vértebras, o que permite uma dilatação
significativa do corpo durante a deglutição de uma presa”.