Será que a moda Pega? Primeiro a ter união estável com 2 mulheres no Rio fala sobre a relação
PorMax Ribeiro-
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Os
três vivem juntos há dois anos e meio e oficializaram a união na sexta (1º).
Famílias
das duas mulheres ainda não aceitam o relacionamento do trio.
A
tabeliã Fernanda Leitão (primeira mulher à esquerda) celebrou a primeira união
poliafetiva de um homem, Leandro, e duas mulheres, Yasmin e Thais, do Rio
(Foto: Simone Goldstein/ Divulgação).
O ditado diz: um é pouco,
dois é bom, três é demais. Mas, para o funcionário público Leandro Jonattan da
Silva Sampaio, de 33 anos, sobra mesmo é o amor que o uniu oficialmente a duas
mulheres na sexta-feira passada (1º), no 15º Ofício de Notas, na Barra da
Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Trata-se do primeiro trio – formado por um homem
e duas mulheres – a formalizar a união estável poliafetiva no estado, como
antecipou a coluna Ancelmo Gois, do jornal "O Globo".
Para Leandro, dividir a vida
com duas mulheres – a desempregada Thais Souza de Oliveira, de 21 anos, e a
agente de negócios Yasmin Nepomuceno da Cruz, de 21 anos – é uma questão de hábito e maturidade. E olha
que no caso dele são três mulheres, já que ele tem uma filha biológica de 2
anos com Thais.
“Minha mãe acha que é uma
tarefa difícil. Mas é como digo para ela: é tudo uma questão de costume, de
adaptação. Se você coloca três ou quatro cães que não se conhecem diante de um
bife, eles vão se morder e brigar pelo bife, porque não conseguem se comunicar.
Com o ser humano é diferente, a gente conversa e tenta se entender. Não vejo
como não pode funcionar”, explica Leandro, que vive maritalmente com as duas
mulheres na mesma casa há dois anos e meio.
Bem tranquilo, o funcionário
conta que já tinha experiência com relacionamento múltiplo. Ele e a mulher com
quem foi casado por 11 anos já se envolviam com outras pessoas, até que há
cinco anos ele conheceu Thais. Leandro expôs a situação, contou que era casado,
e a jovem topou encarar o relacionamento a três. O convívio durou dois anos.
“Não vou dizer que não deu
certo, porque vivemos em harmonia durante 11 anos. Fomos muito felizes, mas
houve um desgaste natural na relação. Hoje ela é casada com outra mulher e vive
muito feliz. Somos muito amigos”, contou Leandro.
Mas a relação entre ele e
Thais logo ganhou uma nova integrante. Cerca de um mês depois da separação da
primeira mulher, em setembro de 2013, ele conheceu Yasmin. Conversa vai,
conversa vem, ela contou que já tinha se relacionado com mulheres, e ele a
convidou para integrar a sua nova família.
“Ela disse que tinha
curiosidade de saber como era essa relação e veio morar com a gente. Foi um
processo muito natural. E hoje já estamos os três juntos há dois anos e meio.
Não vou dizer que não há confronto. São pessoas com gostos diferentes, que
pensam diferente, mas nos entendemos muito bem. Tudo é uma questão de saber
ceder (...) Rola ciúmes externos, de gente da minha faculdade, por exemplo”,
diz Leandro, que cursa psicologia.
Ele conta que tudo na
pequena casa,de apenas um quarto, em Madureira, no Subúrbio do Rio, é dividido,
mas não com o rigor de 50% para cada uma. Todos têm tarefas.
“Não é porque dei um beijo
em uma que a outra também tem de ganhar um beijo. Não é assim que funciona. Mas
procuro ser o mais justo possível com elas”, explica o funcionário.
Agora, depois da união
oficializada, e da lua de mel curtida no fim de semana em Miguel Pereira, no
Sul Fluminense, os três vão esperar a situação financeira se estabilizar para
pensar em mais um filho. Thais está em vias de conseguir novo emprego e, no ano
que vem, vai fazer vestibular para biologia. E Yasmin vai concluir o curso de
técnico de enfermagem. Desta vez, o papel de mãe caberá à Yasmin.
Estranhamento é uma
palavra que não faz parte do cotidiano do trio. Segundo Leandro, vizinhos,
amigos, colegas de trabalho aceitam bem e respeitam o relacionamento deles. Os
colegas de faculdade reclamaram que não foram chamados para a oficialização da
união no cartório. Mas as famílias de Thais e Yasmin, mais conservadoras, têm
pouco contato com o genro
“Também espero, ainda em
breve, conseguir juntar as famílias. A minha família, que é evangélica, depois
de uma década já se acostumou com meu relacionamento. Minha mãe, quando soube
da oficialização da união, me desejou boa sorte. Conheço cada família e sei que
são pessoas maravilhosas, mas elas ainda não aceitam bem nossa união”, lamentou
Leandro.
Ele faz questão de frisar
que a tabeliã Fernanda de Freitas Leitão, do 15º Ofício de Notas, foi
fundamental para a união. Ele a procurou depois de saber que ela tinha
realizado a união estável de três mulheres em outubro de 2015.
“Ela foi fantástica com a
gente, nos acolheu super bem. Ela tem um trabalho muito importante no que diz
respeito a união homoafetiva e poliafetiva e muito nos ajudou, nos deu todo o
apoio. Queria muito oficializar a união por dois motivos: para dar segurança ao
nosso relacionamento no que diz respeito a questões previdenciárias, de plano
de saúde, e tornar a nossa união legal, e também por uma questão ideológica, de
mostrar que o diferente também pode ser legal e tem de ser respeitado, tem
direitos e deveres”, enfatizou.
Mesmo com a união
oficializada entre os três, Leandro diz que o relacionamento não está livre de
que mais uma pessoa integre a família. Mas, como heterossexual, diz que isso só
será possível com uma mulher. Homem nem pensar.
“As meninas se curtem, então
entrar uma outra mulher, não feriria ninguém. Mas sou hétero. Um outro homem
não seria legal, iria causar desconforto. Não é preconceito, mas uma questão de
gosto. E eu não gosto”, concluiu Leandro. G1