Foto: reprodução Tribuna do Paraná |
Há menos de um mês o
ex-morador de rua João Barbosa da Silva Filho, de 61 anos, realizou o sonho da
vida ao se formar professor de educação física.
Depois de sair de Manaus, ele
viveu nas ruas por quase 20 anos, passando por São Paulo e Curitiba.
João comemorou a graduação
e contou como conseguiu:
“Eu tinha em mente a
realização do meu sonho, mas sabia que não tinha condições, então fracionei a
faculdade e fui cursando conforme podia pagar. Num semestre pagava menos aulas,
no outro um pouco mais, e assim fui fazendo até terminar”.
Desde quando saiu de Manaus,
João sonhava em fazer o ensino superior.
“Mas eu não sabia ao certo
qual faculdade queria fazer, até porque quando vi a chance de poder realizar
meu sonho eu já estava com mais idade. Quando fui me inscrever no FIES tinha
uma mãe inscrevendo o filho para educação física e foi aí que me deu vontade de
experimentar o curso. No fim das contas, encontrei a profissão da minha vida”,
comentou João.
Faculdade
Ao invés de concluir no
período comum que seria de quatro anos, João fez a faculdade em sete anos.
Aos 54 anos, ele era o aluno
mais velho da turma e, além dessa questão, tinha que lidar com outras
dificuldades pessoais, entre elas a de dinheiro.
“Foi muito mais tempo e isso
me tornou o mascote de várias turmas, porque embora eu fosse o mais velho, todo
mundo me respeitava muito e me tratava bem. Poucas pessoas sabiam por completo
da minha história, mas muita gente viu em mim um grande exemplo de superação,
então me incentivavam a não desistir”.
Ele estudou no Centro
Universitário UniDomBosco, em Curitiba, onde disse ter sido muito bem atendido,
até mesmo por suas necessidades e por entenderem sua situação.
Ele contou que sua
formatura, no mês passado, foi o momento mais marcante de sua vida.
“Eu sempre fui muito tímido,
então quando me deram os convites, chamei as pessoas e pensei que ninguém iria.
Enquanto via os alunos sendo chamados e aplaudidos, pensei que não teria
ninguém para me aplaudir, mas fui surpreendido”, contou.
Emoção
Segundo o relato do próprio
João, no momento em que foi chamado para pegar o canudo e assinar a graduação,
ele quase perdeu o chão.
“Todo mundo me aplaudiu, não
só as pessoas que eu tinha convidado. Eu pensava que não tinha ninguém por mim,
mas acabou que fui o mais aplaudido. Sinceramente? A ficha nem caiu ainda de
tanta emoção”, lembrou ele, com lágrimas nos olhos.
História
João saiu de Manaus aos 21
anos e viveu a maior parte de sua vida sozinho.
“Fui para São Paulo, onde
morei na rua por muito tempo. Lá eu fiquei 21 anos, mas a maior parte disso sem
sequer ter nada. Vi de tudo, de coisa boa até as piores situações que se possa
imaginar, e isso também me fez muito mal, porque na rua nós estamos perto de
tudo: droga, bebida, você vai se estragando”.
Depois de 21 anos São Paulo,
João se mudou para Curitiba, onde já vive há 19 anos.
“Eu comecei a viver cuidando
de carros. Eu passei muita fome, porque muitas vezes não tinha nem dinheiro
para comprar um lanche. Ao mesmo tempo, aprendi muito a viver e a valorizar as
poucas coisas que fui conquistando”, disse o homem.
Estágio
Quando começou a faculdade,
João descobriu que precisava fazer algumas horas complementares para o
currículo do curso e foi atrás.
“Ele apareceu, em 2014, pediu
para fazer atividades complementares. Nós achamos diferente por já ser um
senhor idoso, que estava cursando faculdade e fomos atrás de entender a
história dele. Quando soubemos a história, simplesmente o adotamos e demos uma
oportunidade de estágio”, contou Alessandro Hendler, secretário de esportes de
São José dos Pinhais, região Metropolitana de Curitiba.
Trabalhando como estagiário no
Centro de Esportes Ney Braga, na cidade da RMC, João teve nova oportunidade de
realizar seu sonho.
“Nós realmente o abraçamos,
unimos forças e até uma motocicleta conseguimos dar para ele, a partir de uma
ajuda de todos os funcionários e do próprio seu João. Fizemos de tudo para que
ele continuasse a faculdade e tivemos, como retorno, muito trabalho, pois ele
se tornou um grande exemplo para todos nós, a começar por pontualidade”.
Alessandro considera João não
só como um exemplo aos que estão por perto dele, mas também para as demais
pessoas.
“Ele foi adotado não só pela
secretaria, mas também pelos atletas, porque faz muito mais do que é a parte
dele, vai além.
“Seu João”, como é conhecido
onde trabalha, provavelmente deve ficar por lá após a graduação.
“Nós estamos buscando diversas
formas para fazer com que ele fique com a gente, inclusive processo seletivo.
Além disso, também estamos indicando para outras modalidades de auxiliar, para
continuar trabalhando em eventos extras.
Com certeza oportunidades para
ele não faltarão, ele é um guerreiro e vamos continuar ajudando de todas as
formas. Ele foi adotado pela gente como um todo”, disse Alessandro Hendler.
É uma pessoa que tem uma
história que faz a gente mesmo parar para pensar na gente. Às vezes reclamamos
de pouca coisa e quando paramos para analisar, vemos que não temos do que
reclamar”.
Lição de vida
João faz questão de deixar um
recado aos jovens:
“Eu saí da rua para ingressar
numa faculdade, isso é muito forte. Aprendi que o dinheiro não é tudo, a
riqueza não se mede pelo bem que se tem, mas pelo bem que se faz. Lute para
viver bem, tenha boas atitudes, caráter e dê atenção a qualquer pessoa, da mais
rica a mais pobre e não seja ganancioso. Não se preocupe com o resultado,
trabalhe”.
Foto: reprodução Tribuna do
Paraná
|
Com informações da Tribuna
do Paraná
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