Governador Renato
Casagrande admite, em conversa no CB.Poder, possibilidade de incluir a menina
de 10 anos estuprada no Espírito Santo em programa de proteção a vítimas.
Internada desde domingo em Pernambuco, garota deixou o hospital nesta quarta
(foto: Ed Alves/CB/D.A.Press) |
As tratativas de mudança
de endereço e identidade da menina de 10 anos que engravidou após ser estuprada
pelo tio, no Espírito Santo, já começaram. Foi o que revelou o governador do
estado, Renato Casagrande (PSB), em entrevista ao CB.Poder — parceria do
Correio e da TV Brasília. Segundo ele, o programa de proteção a vítimas do
estado está à disposição da criança e da família. O caso ganhou repercussão
nesta semana, após a Justiça permitir que a garota interrompesse a gestação.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
Qual apoio o
estado do Espírito Santo dará à criança de 10 anos estuprada pelo tio?
O programa de proteção a
vítimas que temos, aqui, no Espírito Santo, está à disposição da menina e da
família. Certamente, eles já estarão protegidos por esse programa para que a
menina possa passar por essa fase de recuperação psicológica e sua vida seja
estabilizada. É um programa que dá toda a assistência e é coordenado pelo
estado do Espírito Santo.
Para garantir o
cumprimento da decisão judicial de interromper a gestação, houve obstáculos.
Como foi esse processo?
A partir da decisão do
juiz da comarca de São Mateus, tomada a partir de uma representação do
Ministério Público, o MP e o Poder Judiciário estiveram em contato com o
governo do estado, com a Secretaria de Saúde, para pedir ajuda no cumprimento
da decisão judicial. E isso foi feito. A princípio, buscou-se fazer o
procedimento no estado do Espírito Santo, mas o hospital não se sentiu em
condições de fazer. Fomos, então, em busca de um hospital de referência em
Uberlândia (MG), mas, como os números da covid-19 estão altos na região, eles
acharam que não deveriam receber a criança. Então, entramos em contato com o
doutor Olímpio (Moraes, diretor clínico do Centro Integrado de Saúde Amaury de
Medeiros – Cisam), no Recife, que a recebeu e fez os procedimentos. Quando
concluído, nós viabilizamos o retorno dessa criança para o nosso estado.
Como foi a
atuação do Estado nesse caso? Eficiente?
O Estado deve dar apoio à
família e à criança, protegê-la, em especial. Esse é o papel do Estado e, no
cumprimento da decisão judicial, ele tomou todas as medidas necessárias. Também
tivemos uma ação muito rápida da nossa equipe de segurança da Polícia Civil na
busca pelo estuprador. Nós identificamos que ele estava em Betim, Belo
Horizonte, e nossa equipe conseguiu alcançá-lo. Agora, está sob custódia no
sistema prisional capixaba. O Estado, além de proteger a criança, precisa fazer
justiça, com um julgamento legal nos termos da Constituição dessa pessoa autora
desse fato triste e lamentável. Esse é um fato que teve repercussão, mas
sabemos que existem crianças sendo abusadas todos os dias. É um assunto que
deve ser denunciado. No caso dela, já estava sendo abusada havia 4 anos. Em
geral, a maioria dos abusos acontece dentro das próprias famílias, então, é
importante que as denúncias sejam feitas para que a gente possa tomar as
providências contra quem comete esse tipo de crime.
Após a confusão na porta
do hospital onde a criança estava internada, provocada por pessoas contrárias
ao aborto, como fica a segurança da menina a partir de agora? Ela voltará para
casa?
A criança não voltará para
casa. O programa de proteção à vítima oferta uma outra residência, temporária e
provisória, para ela e a família. O local é sigiloso. Ela ficará lá até o
processo se estabilizar. Voltar ao normal após o que houve, acredito, é
impossível. A dor é muito forte. Já houve conversas sobre isso hoje (ontem) de
manhã. É importante a colaboração da imprensa e o apoio das pessoas nas redes
sociais, porque a exposição dessa menina é muito ruim. Temos pessoas de todos
os povos, e muitas pessoas são intolerantes. Existe quem defenda o procedimento
e quem não defenda, e isso tem gerado tensões.
A extremista Sara Winter
divulgou o nome e informações da criança, além de mobilizar um protesto contra
o aborto em frente ao hospital. Como o senhor viu o episódio?
Cada um tem que saber da
sua responsabilidade e consequências dos seus atos. A Sara Winter é uma pessoa
muito influente nas redes sociais. Então, tudo o que ela faz, ela sabe que tem
impacto. E, desta vez, foi grande, tanto que a rede social retirou a postagem
do ar. Mas, expõe a família e a criança. Neste momento, em que usamos tanto as
redes sociais, muitas vezes, acreditamos que podemos ir além daquilo que a lei
nos permite, que podemos passar por cima da proteção, da inviolabilidade das
pessoas. Mas, não, as redes são como a vida real. Se eu acusar alguém
injustamente, posso, e devo, ser processado. (leia mais na reportagem ao lado)
*Estagiário sob a
supervisão de Andreia Castro
Hambúrguer
antes de sair do hospital
Antes de ter alta do
hospital, nesta quarta-feira (19/8), no Recife, a menina de 10 anos que foi
submetida a um aborto pediu para realizar um sonho: comer um hambúrguer. A
criança estava internada desde domingo, no Centro Integrado de Saúde Amaury de
Medeiros (Cisam), na capital pernambucana. “Ela disse que tinha um sonho, que
foi realizado, que era comer um sanduíche do McDonald's. Não sei dizer ao
certo, mas, aparentemente, ela nunca havia comido um hambúrguer”, contou ao
Correio o médico responsável por atender à criança, Olímpio Moraes. De acordo
com o obstetra, antes de ser liberada, a garota foi presenteada com cartas,
brinquedos, jogos eletrônicos e tablets. “Ela, finalmente, está segura, e sinto
que fiz o meu papel como profissional da saúde, que é atenuar o sofrimento das
pessoas e não julgar ou maltratar ninguém.” (Hellen Leite)
Correio Braziliense.
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