Valdo Luís Marques, de 53 anos, conta que realizou sonho ao passar no concurso de gari da prefeitura do Rio
Um passo para cá, uma vassoura
para lá... É no ritmo da música que os garis do Rio de Janeiro encantam os
moradores e turistas da Cidade Maravilhosa. Com performances despretensiosas,
os profissionais da limpeza urbana têm ressignificado a importância da
profissão. Um desses é o gari Valdo Luís Marques da Conceição, de 53 anos, que
viralizou nas redes com um vídeo em que aparece dançando, no Centro do Rio, ao
som de "Flor de Lis" , de Djavan, interpretada por um saxofonista,
artista de rua.
Nas imagens, que foram
gravadas na última sexta-feira, Valdo é flagrado bailando com sua companheira
de trabalho, a vassoura, enquanto alterna entre passos de dança e a varrição. O
vídeo ganhou os grupos de WhatsApp e as redes sociais o que acabou
surpreendendo o gari.
“Isso foi tão despretensioso
que cheguei a tomar um susto quando descobri que tinha um vídeo meu rodando as
redes. Era próximo da hora do almoço da última sexta-feira. Eu já estava me
preparando para a pausa no serviço, quando passei pela Rua São José, já próximo
da Avenida Rio Branco, e me deparei com a área bem suja. Resolvi dar uma geral
na limpeza antes de ir almoçar. E como tinha um artista de rua tocando uma
música, dei uma dançadinha com a minha vassoura e nem reparei que tinha uma
pessoa me filmando”, conta Valdo Luiz.
Mas no sábado pela manhã,
quando chegou para trabalhar, o gari foi chamado pelo o chefe que disse que
precisava ter uma conversa com ele:
“Nem passou pela minha cabeça
que meu chefe havia me chamado para conversar por causa da minha dançadinha.
Troquei de roupa e tomei o meu café. E, fui todo receoso falar com ele e ele me
disse: ‘Rapaz, você sabe que está fazendo o maior sucesso na internet? Tem um
vídeo seu dançando no Centro do Rio. Mas o importante é que você estava com os
equipamentos de proteção e fazendo o seu trabalho’. Eu senti um misto de alívio
e felicidade. É muito bom poder ser reconhecido por nosso trabalho”.
Mesmo cercados pela dor, pela ignorância, pelo roubo, por toda sorte de violência e pela visão de um futuro nada promissor. Ainda assim dois trabalhadores, exercem seus ofícios, um músico e um gari e, sem parar o trabalho, mostram que os sopros da vida ainda arejam o Rio. pic.twitter.com/7qs8ZH84u0
Valdo conta que a repercussão
tem sido tão grande que recebeu durante o sábado mais de 30 ligações de amigos
comentando a performance dele com a vassoura:
“Eu amo dançar, também gosto
de cantar um samba-enredo e tocar o meu pandeiro numas rodas de samba. Mas é
tudo na diversão. Nada profissional. O bom de dançar com a vassoura é que a
gente não precisa se preocupar de que pode pisar nos pés da parceira (risos).
Brincadeira à parte, o que mais me deixa feliz com toda essa história é que
mesmo de uma forma tão inusitada eu estou contribuindo para dar mais
visibilidade para os meus companheiros de trabalho. Quando saímos da
invisibilidade e a sociedade nos enxerga, ela passa a nos valorizar. Isso é o
mais bacana dessa grande brincadeira.”
Morador do Engenho Pequeno, em
São Gonçalo, Valdo conta que antes de conseguir realizar o sonho de entrar para
a Comlurb, trabalhou como office boy, auxiliar de cozinha, fiscal de terminal
de ônibus e até como vigilante.
“Lembro que quando surgiu o
concurso para gari, eu preparei uma garrafa de café e fui para a fila dos
testes. Fiquei quase 24 horas esperando e um anos depois fui chamado para
trabalhar. Foi uma das melhores notícias que recebi na minha vida”, relembra o
profissional que é casado há 28 anos com uma professora e é pai de uma estudante
de 22 anos, que cursa História, na Universidade Federal Fluminense (UFF):
“Minha família também me apoia muito e estão curtindo essa minha fama
repentina. Minha filha, inclusive, criou um Instagram pra mim. Porque eu só
tinha o WhatsApp. Agora, vou tentar ver melhor essa repercussão toda.”
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