Estudo da consultoria Tendências projeta queda de cerca de 8% na renda das duas regiões após a extinção do benefício, que segue sem substituto; programa custou quase R$ 300 bilhões aos cofres da União.
Pagamento do auxílio foi encerrado em dezembro — Foto: Aloisio Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo |
O desempenho econômico do
Norte e Nordeste deve ser o mais prejudicado com o fim do Auxílio Emergencial,
que teve a sua última parcela depositada no mês de dezembro. Sem a ajuda do
governo federal, as duas regiões vão colher uma forte queda na renda e um
crescimento mais baixo do que a média nacional neste ano.
Estudo realizado pela
consultoria Tendências aponta que o rendimento dos moradores da região Norte
saltou 13,1% no ano passado, enquanto que o dos habitantes do Nordeste cresceu
8,3%.
Em 2021, porém, os dados
apontam para uma reversão: a renda do Norte vai despencar 8,5% e a do Nordeste,
8%.
Como comparação, a renda de
todo o Brasil cresceu 4,6% no ano passado e deve recuar 3,7% em 2021.
"As regiões Norte e
Nordeste foram as que tiveram o maior número de domicílios beneficiados pelo
Auxílio Emergencial, porque são os locais com maior informalidade",
explica a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro.
"Então, o fim do auxílio afeta bastante a região Norte e, especialmente, o
Nordeste."
Segundo a Caixa Econômica
Federal, as transferências da União somaram R$ 292,9 bilhões e alcançaram 67,9
milhões de pessoas - quase um terço da população do país.
Recuperação desigual
O impacto do benefício também
pode ser medido pela taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) das
diferentes regiões.
No ano passado, segundo as
projeções da consultoria, a atividade econômica do Norte (-1,9%) e do Nordeste
(-3,8%) encolheu bem menos do que a média do país (- 4,4%).
Mas em 2021 esse cenário
também deve se inverter: Nordeste (2,1%) e Norte (2,6%) crescerão abaixo da
média nacional, que será de 2,9%.
"Haverá uma diversidade
bem expressiva na expansão das regiões", afirma Alessandra. "O
Nordeste deve ter o menor crescimento, muito por causa do fim do auxílio. É uma
região que depende de transferências governamentais e de investimentos
públicos. E, diante da situação fiscal adversa (do país), a gente não tem a
previsão de grandes projetos ou investimentos públicos que possam trazer um
impulso para a região."
A expectativa é que o
crescimento mais robusto seja observado no Sul (4,1%), principalmente por conta
da base de comparação, que é muito fraca. Em 2020, segundo as projeções da
Tendências, o PIB da região recuou 6,1%, pressionado pelo PIB agropecuário, que
sofreu com as condições climáticas locais, e pelo fraco desempenho do setor de
máquinas e equipamentos.
Crise social
O fim do Auxílio Emergencial
vai abrir uma lacuna preocupante no orçamento das famílias mais pobres. Estudo
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que 2,9
milhões de domicílios (4,3% do total) sobreviveram, em novembro, apenas com o
valor do benefício.
Porcentual que é bem mais
elevado em estados do Norte e Nordeste, como Ceará (8,7%), Piauí (9,6%) e Amapá
(12,9%).
O drama do fim do auxílio é
ainda maior devido à situação crítica do mercado de trabalho. Os economistas
projetam uma recuperação lenta do emprego em 2021, insuficiente para absorver
todos os desocupados.
No terceiro trimestre de 2020,
a taxa de desocupação chegou a 14,6%, o que corresponde a 14,1 milhões de
desempregados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Três estados do Nordeste lideram esse ranking: Bahia (20,7%), Sergipe
(20,3%) e Alagoas (20%).
Com informações G1.
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