Pesquisa sobre 'Covid longa'
publicada na revista Nature aponta que pessoas que se curaram têm risco 59%
maior de morrer dentro de 6 meses após a infecção.
Sobreviventes da Covid-19 têm
um risco 59% maior de morrer dentro de seis meses após infecção, aponta um
estudo publicado na quinta-feira (22) na revista científica "Nature",
uma das mais importantes do mundo.
A pesquisa sobre "Covid
longa", uma das maiores já feitas sobre as sequelas da infecção pelo
vírus, revela que muitas pessoas estão sofrendo não apenas uma série de
problemas de saúde depois da cura, mas também passam a ter uma chance maior de
não sobreviver nos meses seguintes.
O estudo usou os bancos de
dados nacionais de saúde do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados
Unidos para identificar as sequelas em até 6 meses após a infeção.
Segundo a pesquisa, foram
identificadas sequelas no sistema respiratório e em vários outros, incluindo o
sistema nervoso, além de distúrbios neurocognitivos, distúrbios de saúde
mental, distúrbios metabólicos, distúrbios cardiovasculares e distúrbios gastrointestinais.
Mal-estar, fadiga, dores
musculoesqueléticas e anemia também foram relatadas, e houve um aumento no uso
de analgésicos (opioides e não opioides), antidepressivos, ansiolíticos,
anti-hipertensivos e hipoglicemiantes orais.
Ziyad Al-Aly, que conduziu o
estudo, afirmou à Bloomberg que a internação por Covid-19 é "apenas a
ponta do iceberg". "Estamos começando a ver um pouco abaixo do
iceberg, e é realmente alarmante".
Al-Aly e os outros
pesquisadores que participaram do estudo documentaram uma série de
sequelas debilitantes que afetam os sobreviventes meses após o diagnóstico.
O que é a 'Covid longa'?
A "Covid longa" (ou
"Síndrome Pós-Covid", "Covid persistente" ou "Covid
prolongada") é uma doença que pode atingir até 80% dos infectados. São
pelo menos 55 efeitos de longo prazo (veja no infográfico abaixo).
Pesquisas reunidas pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) apontam que as mulheres são as que mais relatam
complicações posteriores à infecção pelo novo coronavírus.
Um estudo britânico que
acompanhou 1.077 pessoas que ficaram internados aponta que 7 a cada 10
pacientes não se sentiam totalmente recuperados 5 meses após alta (e 1 a cada 5
pessoas relatou dificuldades de ver, ouvir ou andar).
Sintomas da Covid longa — Foto: Elcio Horiuchi/G1
Outro estudo sobre as sequelas
Um outro estudo, publicado na
"Annals of Internal Medicine", apontou os tipos de sequelas nos
pacientes que sobreviveram à Covid-19.
Os pesquisadores acompanharam
1.648 pacientes que foram internados com o vírus em 38 hospitais, dos quais 398
morreram durante a internação (24,2% do total) e 1.250 sobreviveram (75,8%) e
tiveram alta entre 16 de março e 1º de julho de 2020.
Dos 1.250 pacientes que
sobreviveram, 84 morreram em até 60 dias após a alta. Isso elevou a taxa de
mortalidade geral para 29,2% e daqueles que foram internados em UTIs para
63,5%. Outros 189 tiveram de ser internados de novo (15,1% dos sobreviventes).
Ao todo, quase 1 em cada
3 pacientes morreu durante a hospitalização ou em até 60 dias após a alta. A
maioria dos pacientes tiveram sequelas, incluindo a incapacidade de retornar às
atividades normais e sintomas físicos e emocionais.
Segundo o estudo, os dados
confirmam que o "custo" da Covid-19 se estende muito além da
hospitalização e são consistentes em relação às sequelas de longo prazo.
Os efeitos vão desde derrame
cerebral, diabetes e dificuldades respiratórias a até danos ao coração, fígado
e rins, depressão e perda de memória.
Dos 488 pacientes que
continuaram a ser acompanhados 60 dias após a alta, quase metade (238) relatou
ter sido afetada emocionalmente e 28 procuraram atendimento de saúde mental.
Além disso, 159 pacientes
tiveram sintomas cardiopulmonares, sendo que 92 tiveram sintomas novos ou
pioraram de condição.
Outros 65 tiveram perda
persistente do paladar ou do olfato, e 58 pacientes relataram uma nova
dificuldade ou piora no quadro para completar as atividades da vida diária.
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