Nova
vítima conta que ficou quase dois anos em cárcere privado, sob agressões e
ameaças
Mordidas no
couro cabeludo e socos no rosto. Estas foram as agressões relatadas pela 12ª
vítima de Melina Esteves França, acusada de espancar, ameaçar e manter em
cárcere privado babás contratadas para tomar conta de seus dois filhos
pequenos. A mulher é uma idosa, que resolveu tornar o caso público após ver as
imagens da ex-patroa atacando Raiana Ribeiro, 25 anos, com tapas, socos e
puxões no cabelo.
As agressões
à 12ª vítima foram registradas em julho deste ano na Delegacia Especial de
Atendimento ao Idoso (Deat). Agora são três unidades policiais que investigam a
conduta da ex-patroa – além da Deat, foram registradas ocorrências na 9ª
Delegacia (Boca do Rio) e na 12ª Delegacia (Itapuã).
A idosa, que
teve os dados pessoais preservados, será ouvida às 9h30 da próxima terça-feira
(7) na Deat. Ela é a nona vítima de Milena que é assistida pelo advogado Bruno
Oliveira, o mesmo que representa a babá Raiana, jovem que pulou do 3º andar
para escapar das agressões e cárcere privado no último dia 25.
Na manhã
desta sexta (3), Bruno solicitou um acompanhamento mais direto dos casos ao
Ministério Público do Estado (MP-BA). Ele formalizou o pedido, que será
respondido em breve. "Isso se faz necessário diante da gravidade do
cenário que envolve vítimas e a acusada", disse.
Mordidas
Bruno disse que foi procurado pela idosa da mesma forma que as outras vítimas
chegaram até ele, na porta de uma delegacia. “Quando a situação de Raiana veio
à tona, depois da queda, ela, como as demais, me abordou quando deixava a 9ª DP
dizendo que também foi agredida por Melina. Ela afirma de que ela recebeu
diversas mordidas no couro cabeludo, por uma questão de maldade,
simplesmente", explica o advogado.
"A
vítima é uma senhora idosa que fazia tudo o que ela queria, nunca divergia,
ainda assim nada justificaria atitudes brutais, principalmente contra uma
pessoa que é de vulnerabilidade. Nada justifica", complementou.
A idosa
contou a Bruno Oliveira que permaneceu com Melina por quase dois anos sendo
espancada e mantida em cárcere privado em alguns momentos. "Os relatos
dela são muito fortes. Era raridade ela sair do apartamento. Disse que Melina a
ameaçava, dizendo que faria algo com a ela e com os seus familiares, inclusive
o neto, caso fugisse. Ela passou todo esse sofrimento na casa de Melina em
Piatã e no Imbuí", disse o advogado.
Ainda
segundo Bruno Oliveira, a idosa contou com a ajuda de uma pessoa para fugir do
apartamento do Imbuí. “Uma pessoa que estava no imóvel presenciou o momento em
que a acusada deu gratuitamente um soco no rosto da idosa. Essa pessoa ficou
tão revoltada, que logo em seguida, resgatou a babá e fui junto com ela à Deat
para registrar a ocorrência. No dia, foi expedido uma guia de lesões corporais
e agora a delegacia aguarda o resultado do exame para dar continuidade à
investigação”, contou o advogado.
As agressões
físicas não eram os únicos problemas submetidos à baba por quando dois anos.
“Ela me
relatou que recebia de Melina R$ 500 em mãos, mas logo em seguida tinha que
devolver R$ 400 e assinar que ficou com o valor integral. Tudo sob ameaça.
Melina dizia que ela tinha que devolver e pronto. Isso em 2020, porque este ano
ela nada recebeu”, relatou o advogado.
No período
que ficou na casa de Melina, a idosa disse que testemunhou agressões em outras
babás. “Ela já me relatou outras situações, que ela presenciou o ataque de
Melina a uma dessas vítimas que eu estou representando e que já deu queixa
contra a acusada. Ela servirá de testemunha para este caso”, disse Bruno.
Imagens
Depois de deixar o MP-BA, o advogado disse que Raiana o aguardava no carro, mas ela havia pedido para não dar mais entrevista, pois ficou abatida ao se ver sendo espancada por Melina em um vídeo.
“Ela
[Raiana] disse que é a sensação de reviver novamente e por isso não quer mais
falar sobre o assunto. Ela vai hoje embora para a casa dos pais, no interior”,
contou o advogado.
As imagens
de uma câmera de segurança colocada na sala do apartamento de Melina mostram o
momento em que a então patroa agride com socos e tapas a babá Raiana Ribeiro,
25 anos, horas antes de a jovem pular do 3º andar para escapar das agressões e
cárcere privado.
Raiana
aparece sentada no sofá, ao lado de Melina, quando esta dá um tapa no rosto da
jovem e depois começa uma série de socos e puxões no cabelo. A ex-patroa chega
a bater com as duas mãos nas costas da jovem, que tenta se defender. A situação
ocorreu no último dia 25.
Ainda dá
para ouvir Melina perguntar se a vítima acha certo o que ela estava fazendo,
pede respeito e chama a jovem de horrorosa. Ao lado, aparece uma outra mulher
com uma criança no colo. É possível ouvir o choro do bebê, que presencia as
agressões.
Relembre
o caso
Raiana
Ribeiro trabalhava cuidando de crianças em um apartamento no Edifício
Residencial Absolutto quando caiu do terceiro andar. Socorrida para o Hospital
Geral do Estado (HGE), ela prestou depoimento no posto policial da unidade e
disse que pulou da janela para fugir da patroa.
Segundo a
funcionária, ela foi agredida e trancada em um cômodo da casa, após ter seu
celular tomado pela patroa. Tudo teria começado quando ela avisou que queria
deixar o emprego após uma semana de contratada.
Raiana
conversou com o CORREIO na noite da última quarta-feira (25) e relatou os
momentos traumáticos que viveu. Natural do município de Itanagra, a 120 km de
Salvador, ela disse que viu o anúncio de emprego em um site e decidiu se
candidatar.
Após contato
com a anunciante, a babá trocou informações e após algumas chamadas de vídeo
foi contratada para trabalhar. "Depois que eu vi o anúncio, entrei em
contato, e o acordo era trabalhar integral e folgar a cada 15 dias", disse
Raiana.
No entanto,
após iniciar o trabalho, Raiana conta que recebeu nova proposta de emprego e
que após comunicar à patroa, passou a ser ameaçada. "Quando eu pedi para
sair do trabalho, ela respondeu: 'eu quero ver se você vai embora. Eu não sou
vagabunda. Você não vai embora", lembrou a babá.
A ameaça, de
acordo com Raiana, teria ocorrido na terça-feira (24). A babá teria pedido
socorro à irmã, pelo telefone. A irmã de Raiana então entrou em contato com uma
tia que mora em Salvador. Após o contato, um homem teria ido até o prédio onde
Raiana trabalha, mas após fazer contato pelo interfone, a patroa disse que
Raiana não estava no local.
Nesta
quarta-feira (25), uma pessoa voltou no prédio a pedido da tia de Raiana para
procurar a jovem, segundo ela, desta vez, a patroa arrancou a fiação do interfone
para evitar o contato. Sem contato externo, Raiana diz que foi trancada no
banheiro. Desesperada, ela tentou fugir pelo basculante.
"Ela me
trancou no banheiro, ai vi o basculante e decidi fugir para alcançar a janela
do apartamento do lado e lá pedir ajuda, mas aí não consegui e fiquei
pendurada. Aí depois, eu caí", conta.
Ela caiu dentro de um apartamento localizado no primeiro andar e foi
socorrida. Raiana fraturou o calcanhar, e levou pontos na testa, além de ter
ficado com alguns hematomas no corpo. Ela teve alta no mesmo dia.
Mas o
comportamento agressivo de Melina Esteves França com trabalhadores domésticas
tem relatos desde 2018, pelo menos, quando ela ainda morava em Piatã. Um grupo
de ex-funcionários foi à 9ª Delegacia para prestarem depoimento sobre as
ameaças de cárcere e agressões físicas e verbais na última sexta-feira (27).
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