De acordo com a advogada da família de Hyara Flor Santos
Alves, arquivos foram adicionados à investigação parar sustentar "a
suspeita da família de que o crime foi intencional e premeditado"
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Sogro de cigana morta na Bahia, Júnior Alves faz vídeo exibindo arma Reprodução |
A família da cigana Hyara Flor Santos Alves, de 14 anos,
entregou à polícia vídeos e fotos que supostamente demonstram a hostilidade com
que agia Júnior Alves, pai do marido da jovem. Em uma das gravações obtidas
pelo GLOBO, o homem aparece alcoolizado e manuseando uma pistola. Os parentes
da vítima sustentam o argumento de que Hyara foi morta por vingança, a partir
do fato de que o tio da adolescente mantinha uma relação extraconjugal de mais
de seis anos com a sogra dela, que é casada com Júnior e mãe do companheiro da
jovem, apontado como principal autor do tiro que a levou a óbito em Guaratinga,
no Sul da Bahia.
No vídeo de som inaudível, Júnior Alves, conhecido na
comunidade cigana como Amorim, aparece bebendo em um bar. Já alcoolizado, ele
ergue uma pistola preta, que depois é mantida em seu colo. De acordo com a
advogada da família da vítima, Janaína Panhossi, os arquivos foram adicionados
à investigação parar sustentar "a suspeita da família de que o crime foi
intencional e premeditado".
— Max Ribeiro (@max_ribe_29) July 19, 2023
Ao GLOBO, o pai da Hyara, Hiago Alves, afirmou que Júnior
costumava andar armado e postar vídeos exibindo a pistola nas redes sociais.
Segundo ele, Júnior não aceitava a traição da mulher e premeditou o assassinato
da jovem cigana como forma de punir o tio dela, identificado como Ricardo
Alves.
— Há boatos na comunidade cigana de que o meu irmão mantinha
uma relação com a mulher dele (Júnior) há mais de seis anos. Então, ele viu uma
oportunidade de se vingar — defende Hiago. — Ele sabia que minha filha era
muito querida por todos e principalmente pela família dela, e planejou casar o
filho dele com a minha filha. Depois mandou o menino matar a Hyara, porque
achou que não fosse dar em nada — completa o pai da vítima.
Os casamentos na comunidade cigana são arranjados e costumam
acontecer quando os noivos ainda são bem jovens. Assim como Hyara, o marido,
agora foragido, tem 14 anos. Eles estavam casados há dois meses.
Polícia investiga feminicídio
Procurada pelo GLOBO, a Polícia Civil da Bahia não informou
se Júnior tem posse ou porte de arma. Em 6 de julho, dia em que Hyara foi
assassinada, uma pistola calibre 380 com dois carregadores e munições foram
apreendidos no local e encaminhados à perícia. Não se sabe, no entanto, se
trata-se da mesma arma que o sogro da vítima manuseia no vídeo.
De acordo com as autoridades, o caso é investigado como
feminicídio e outros detalhes serão preservados por correr em sigilo e envolver
menores de idade. Todos os integrantes da família do noivo, inclusive a mãe
envolvida no romance, estão foragidos desde o assassinato.
Neste domingo, o Tribunal de Justiça da Bahia emitiu um
mandato de busca e apreensão e internação do adolescente, que é suspeito pela
morte.
Conforme divulgado pelo Fantástico no domingo (16), o laudo da
perícia afirma que o tiro disparado contra Hyara no dia 6 de julho foi feito
por alguém a, no máximo, 25 centímetros de distância. A bala entrou pelo
pescoço e ficou alojada na vértebra cervical da adolescente. O crime teria uma
testemunha-ocular: o tio do noivo teria visto ele manuseando a arma. Ainda não
se sabe se o tiro foi intencional ou acidental.
Tio de Hyara admitiu romance
Pivô da suposta vingança que teria levado ao assassinado de
Hyara Flor Santos Alves, de 14 anos, Ricardo Silva Alves, tio da vítima,
relatou que vivia, há pelo menos seis anos, um romance às escondidas com
Janaína Alves, mãe do marido da jovem, principal suspeito pela morte. Ao GLOBO,
ele contou ainda que, no começo da relação, o marido da amante descobriu a
traição e ameaçou matá-lo com “seis tiros na cara”.
— Eu e a Janaína tínhamos um caso há mais ou menos seis anos.
Naquela época o marido dela descobriu, me encontrou e disse que ia me dar seis
tiros na cara. Mas o tempo passou e agora quando soube que a minha sobrinha ia
casar com o filho de Janaína, eu disse que era melhor pararmos de nos
encontrar. Ficamos afastados e voltamos a nos falar há uns 90 dias. Até que
aconteceu a tragédia — afirma Ricardo.
De acordo com o tio da vítima, o romance era conhecido pela
comunidade cigana de Guaratinga, onde as duas famílias vivem. Ele contou que
Janaína costumava presenteá-lo com bens caros para que não a deixasse. Entre os
agrados que recebeu, ele lista uma pulseira de ouro e R$ 25 mil. Apesar de não
recusar os presentes, ele afirma que tentava terminar o romance, mas não
conseguia porque Janaína já teria tentado se enforcar, de acordo com Ricardo, e
cortava os pulsos.
— Ela me mandava fotos com vários remédios na mão falando que
ia tomar. Já tentou se enforcar. Era uma situação muito complicada — relata
ele, acrescentando nunca ter imaginado que a situação pudesse terminar em
tragédia.
Ainda segundo Ricardo, o relacionamento extraconjugal
acontecia em motéis na cidade de Eunápolis, que fica a aproximadamente duas
horas de Guaratinga. A desculpa dada por Janaína ao marido para encontrar
Ricardo era de que ela iria à costureira, onde mandava confeccionar suas roupas
típicas.