Estudos recentes revelam como o uso prolongado do celular no banheiro interfere no reflexo evacuatório, sobrecarrega o sistema digestivo e impacta o bem-estar psicológico.
Ficar sentado por longos minutos no vaso, com o celular na
mão rolando o feed do Instagram ou respondendo mensagens, pode parecer
inofensivo, mas não é. Esse comportamento, cada vez mais comum, pode trazer
sérias consequências para a saúde física e mental. Entre os principais riscos
estão hemorróidas, constipação intestinal, alterações na microbiota, dores
posturais e até dependência emocional. Tudo isso é reflexo do nosso estilo de
vida hiperconectado, em que até o banheiro se tornou um espaço de consumo
digital.
Estudos recentes revelam como o uso prolongado do celular no
banheiro interfere no reflexo evacuatório, sobrecarrega o sistema digestivo e
impacta o bem-estar psicológico. A seguir, entenda os principais riscos
e veja como pequenas mudanças podem trazer grandes benefícios.
Um hábito comum
Pesquisas mostram que levar o celular para o banheiro é uma
prática global. Um levantamento feito pela NordVPN em 2022 aponta que 65% dos
adultos usam o celular enquanto estão no vaso — em países como Hong Kong, esse
número chega a 90%. Antes ocupado por jornais e revistas, o tempo no banheiro
agora é dominado por redes sociais, vídeos e jogos, estendendo o que deveria
ser uma atividade rápida.
Nas redes sociais, o tema é tratado com bom humor. No X
(antigo Twitter), são comuns postagens como: “eu tenho que parar de usar o
celular no vaso, porque perco a hora” ou “se você está lendo isso no trono… já
sabe o que (não) fazer”. Mas apesar do tom descontraído, o problema é sério.
Como alerta a gastroenterologista Dra. Roshini Raj, da NYU Langone:
“Mesmo sem fazer força, o simples fato de permanecer sentado
por muito tempo aumenta a pressão sobre as veias retais.”
O que acontece com o corpo?
A posição sentada por tempo prolongado — especialmente com o
tronco inclinado e o celular nas mãos — gera sobrecarga na região do reto e do
ânus. A fisioterapeuta Dra. Luana Antunes explica: “O assoalho pélvico, formado
por músculos e ligamentos que sustentam órgãos como bexiga, reto e útero, pode
ser comprometido com esse hábito.”
Essa pressão constante favorece o surgimento de hemorróidas e
outras complicações. A coloproctologista Dra. Marcella Sousa, da Santa Casa de
São Paulo, complementa: “A distração causada pelo celular prolonga o tempo no
vaso e muitas vezes leva à realização de força desnecessária, o que
sobrecarrega a região anal.”
Essa combinação de postura inadequada e esforço inconsciente
pode gerar fissuras anais, enfraquecimento muscular e, em casos mais graves,
até prolapso retal. Para a especialista, permanecer mais de 10 minutos no vaso
já representa risco.
Pode afetar o intestino mesmo sem dor?
Sim. Mesmo sem dor ou desconforto imediato, o uso do celular
durante a evacuação pode comprometer o funcionamento do intestino. Isso porque
a distração interfere na comunicação entre cérebro e corpo, dificultando o
controle adequado da evacuação. O resultado: constipação, sensação de evacuação
incompleta e até dependência do celular como estímulo.
Segundo a Dra. Marcella: “Se você notar sangue no papel
higiênico, dor ao evacuar, coceira, sensação de esvaziamento incompleto ou algo
‘saindo’ pelo ânus, é hora de procurar ajuda.”
O intestino pode ser “reprogramado” de forma negativa quando
o estímulo natural da evacuação é constantemente adiado ou ignorado por conta
da distração digital.
Impacto emocional e psicológico
A psicóloga e neuropsicóloga Joyce Botte aponta que o
problema não é apenas físico. O uso do celular no banheiro reflete uma
dificuldade crescente das pessoas em lidar com o próprio ócio. “Muitos têm
dificuldade de ficar sozinhos consigo mesmos ou de viver momentos simples com consciência,
como tomar banho, dormir ou fazer suas necessidades.”
Além disso, o uso do celular provoca alterações posturais
importantes. Como ressalta a Dra. Luana Antunes: “A posição inclinada para
olhar a tela sobrecarrega o pescoço, ombros, coluna lombar e região pélvica.”
A psicóloga reforça que esse comportamento é reforçado
socialmente e se transforma em um hábito automático, difícil de ser quebrado
sem esforço consciente.
Como mudar o hábito?
A boa notícia é que é possível reverter esse padrão com
medidas simples:
• Deixe o celular fora do
banheiro. Fora da vista, fora da mão.
• Limite o tempo no vaso a 5–10
minutos, no máximo.
• Use um banquinho para os pés,
ajustando o ângulo do cólon e facilitando a evacuação.
• Crie um ambiente tranquilo e sem
distrações para respeitar o ritmo natural do corpo.
• Use aplicativos com limite de
tempo ou lembretes de uso consciente.
A psicóloga Joyce Botte conclui: “Precisamos reaprender a
estar presentes até nos momentos mais simples. Isso é parte de uma vida com
mais equilíbrio.”
Fonte: Meio Norte News