Estudo publicado na revista médica The Lancet aponta que 76% das pessoas infectadas pelo coronavírus apresentam pelo menos um sintoma
3 em 4 pacientes que tiveram Covid-19 apresentam sintomas seis meses depois |
A maioria dos pacientes
hospitalizados com a Covid-19 no início de 2019 na China continua apresentando
pelo menos um sintoma da doença mesmo seis meses depois dos primeiros sintomas
É o que revela um estudo divulgado anteontem pela revista médica The Lancet.
Relatos de persistência dos
sintomas e sequelas são comuns entre pacientes e já motivaram a criação de
centros de reabilitação específicos para essas pessoas - o que mostra que ser
um "recuperado" do coronavírus não significa necessariamente estar
curado. Mas o trabalho de agora é o primeiro a traduzir em números esse impacto
de longo prazo.
Os pesquisadores, liderados
por Chaolin Huang, do Hospital Jin Yin-tan - de Wuhan, onde surgiu a doença -, avaliaram
1.733 pacientes diagnosticados entre janeiro e maio com acompanhamento entre
junho e setembro passados. A maioria (76%) ainda apresentava pelo menos um
sintoma após seis meses do diagnóstico O mais comum foi fadiga e fraqueza
muscular (63% dos pacientes), seguido de dificuldades para dormir (26%).
Ansiedade e depressão foram reportados por 23% dos pacientes.
Aqueles que ficaram mais
gravemente doentes no hospital apresentaram com maior frequência, depois de
seis meses, a função pulmonar prejudicada e anormalidades detectadas em imagens
do tórax, o que poderia indicar uma lesão de órgão. Somente uma pequena parcela
(390 pacientes) passou por esses testes complementares para avaliar a função
pulmonar. Entre eles, aqueles que precisaram de ventilação (nível mais grave),
56% tiveram redução do fluxo de oxigênio dos pulmões para a corrente sanguínea.
Entre os que precisaram de oxigênio, 29% tiveram esse impacto.
"Nossa análise indica que
a maioria dos pacientes continua a viver com pelo menos alguns dos efeitos do
vírus após a alta hospitalar", comentou Bin Cao, do Centro Nacional de
Medicina Respiratória, que orientou o estudo.
No Brasil
Para o pneumologista
brasileiro Carlos de Carvalho, do Incor e do HC, que participa de um estudo
para identificar essas sequelas no longo prazo, mais trabalhos como este vão
ajudar não somente a orientar a reabilitação de pacientes como a tratar os que
precisam ser hospitalizados. A pedido do Estadão ele avaliou o estudo chinês e
disse que os achados são bastante relevantes. Os sintomas mais comuns relatados
em Wuhan também são mencionados no Brasil.
O trabalho do HC ainda está na
fase inicial. A ideia é acompanhar ao longo de um ano 1,2 mil pacientes
internados no hospital. Segundo Carvalho, 10% da amostra começou a ser avaliada
em dezembro. "Percebemos os pacientes um pouco mais queixosos do que
esperávamos", relata Carvalho. Uma análise da Secretaria Municipal da
Saúde de São Paulo em novembro apontou que até 40% dos curados da covid-19 têm
sequelas.
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