Cotação
do boi recuou no campo depois de o país deixar de comprar do Brasil, mas
proteína segue cara nas prateleiras. Saiba o que está acontecendo.
Enquanto nas
prateleiras dos mercados o preço da carne está nas alturas, no campo, os
valores recuaram alguns reais. Isso porque as vendas do Brasil para a China
foram suspensas, após casos suspeitos de vaca louca notificados em Minas Gerais
e Mato Grosso.
A
Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) já informou que as ocorrências não
representam risco para a cadeia de produção bovina brasileira. Mesmo assim, a
China mantém o veto há 47 dias.
Veja
perguntas e respostas dos reflexos para os preços no Brasil:
1.
Por
que o preço da carne caiu nas zonas rurais?
2.
A
queda vai chegar aos supermercados?
3.
E
no longo prazo, como fica?
4.
O
que pecuaristas têm feito?
1. Por
que o preço da carne caiu nas zonas rurais?
A cotação do
boi gordo recuou depois que a China parou de comprar carne bovina do Brasil, no
dia 4 de setembro.
O país
asiático importa quase metade das cerca de 2 milhões toneladas de carne que o
Brasil envia a outros países, por ano e, portanto, todo movimento que a
nação faz facilmente afeta nossos preços.
No
campo, a arroba bovina chegou a fechar na quarta-feira (20) em seu menor
valor no ano: em R$ 262,90, segundo levantamento do Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP.
No início de
setembro, quando ocorreu a suspensão, a cotação estava em torno de R$ 305,
chegando a bater recorde em junho (R$ 322).
2. A
queda vai chegar aos supermercados?
Nos
supermercados ainda não se sabe se a queda vai chegar.
Mas, no
estado de São Paulo, por exemplo, o preço no atacado já caiu porque uma
parte do que seria embarcada para a China foi despachada para o mercado interno,
conta o analista da Safras & Mercado Fernando Henrique Iglesias, que
acompanha o setor.
Ele
ressalta, entretanto, que a maioria da carne bovina ainda está parada em
câmaras frias nos frigoríficos e em contêineres em portos, sem previsão de
destino.
"Parte
da carne já entrou no nosso mercado e isso se refletiu no atacado. Antes de
agosto, o quilo do corte do bovino estava em torno de R$ 17 e recuou para R$ 14
nesta semana", afirma Iglesias.
No varejo da
cidade de São Paulo, entretanto, o preço da carne continua em alta. O
produto subiu 0,62% na segunda semana de outubro, após ter avançado 0,42%
na semana imediatamente anterior, mostram dados da Índice de Preços ao
Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
O analista
Guilherme Moreira, coordenador do IPC, diz que, após a suspensão da China, no
dia 4 de setembro, a proteína bovina começou a ter leves recuos, que já
foram revertidos neste mês. "Então, se houve impacto, foi bem pouco. Na
verdade, pode ter evitado novas altas", diz.
"Essa
queda pode chegar ao consumidor, mas não na mesma proporção do atacado.
Movimentos de alta de preço são repassados de forma mais agressiva pelo varejo.
Mas, quando são de baixa, não é assim...esses repasses acabam sendo mais
discretos. É um perfil do negócio", ressalta Iglesias, do Safras.
3. E no
longo prazo, como fica?
Por outro
lado, o analista diz que, se a suspensão da China se estender por muito
mais tempo, a tendência é que os frigoríficos comecem a colocar mais carne no
mercado interno. Com mais proteína disponível, a tendência seria os preços
caírem.
Na terça
(20), o Ministério da Agricultura determinou que os frigoríficos
habilitados para exportar para a China suspendam a produção para o país por 60
dias, o que sinalizou, para os analistas, que a paralisação do comércio
pode durar mais.
"Não
tem outro consumidor mundial que consegue comprar em quantidade e preço o que
a China compra do Brasil. Então essa carne vai acabar indo para o
mercado interno e o preço pode recuar de forma mais significativa",
ressalta Iglesias.
"É
verdade que o valor da carne bovina teria que cair bastante para que o consumo
retomasse. Os preços atingiram patamares bastante proibitivos",
acrescenta.
Iglesias
pontua ainda que o reflexo do atacado para o varejo leva um tempo. Geralmente,
os mercados esperam acabar o estoque adquirido por um preço mais alto para,
então, reporem o produto comprado por um valor menor e, assim, decidirem
reduzirem preço.
4. O que
pecuaristas têm feito?
Quando se
olha para o campo, a trajetória futura do preço da carne parece incerta e pecuaristas
já diminuíram o abate de bois, que vem se acumulando nas fazendas, conta o
analista de agro José Carlos Hausknecht, sócio-direto da MB Associados.
"O
pecuarista está entrando em uma fase em que manter o gado sem abatê-lo pode ser
uma estratégia para não permitir uma queda muito forte no preço", aponta
André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Por outro
lado, Hausknecht diz que manter esses animais nas fazendas sai caro,
especialmente porque, entre setembro e outubro, os bois que estão no campo são
os de confinamento, sistema que tem gastos elevados com alimentação.
"Os
bois continuam comendo e uma hora vão parar de engordar. Então, em algum
momento, a indústria vai ter que abater. E com abate, entra mais carne no
mercado, e os preços podem começar a cair no varejo", diz Hausknecht.
Ele reforça,
porém, que tudo isso é incerto. No caso de uma retomada rápida da exportação de
carne para a China, por exemplo, a proteína nem chega a ser colocada no mercado
e os preços continuam nos atuais patamares. "Tudo depende do tempo deste
embargo", diz.




