Jornalista estava internada em um hospital de SP, onde fazia
tratamento contra um câncer. Repórter se popularizou pela forma divertida como
ajudava a resolver problemas comunitários no quadro RJ Móvel, do RJ1.
A jornalista
Susana Naspolini morreu nesta terça-feira (25) em São Paulo, vítima de um
câncer. A repórter era uma das mais populares da TV Globo no
Rio, onde deixou sua marca por anos no quadro de jornalismo comunitário RJ
Móvel, do RJ1.
Ao longo de seus 49 anos, Susana travou e venceu algumas
lutas contra o câncer – sempre com muita fé e alto astral. Mas um tumor
identificado pelos médicos na bacia se espalhou por outros órgãos e ela não
resistiu.
Naspolini trabalhava no Grupo Globo desde
2002. Ganhou muita popularidade no Grande Rio devido à forma divertida de
interagir com os moradores e cobrar as autoridades por soluções para os
problemas comunitários. Conseguiu tornar popular um quadro de serviço, na maior
parte das vezes de questões locais em áreas abandonadas pelo poder público.
Com seu calendário de papel, cobrava de representantes dos
órgãos públicos uma data para a conclusão das melhorias. Anotava o dia e
voltava com sua equipe para verificar se os problemas haviam sido resolvidos
como prometido. Em caso negativo, regressava algumas semanas depois novamente,
até que o problema fosse solucionado.
Susana Naspolini se envolvia com os entrevistados e com as
pautas. Para mostrar uma ciclovia esburacada, por exemplo, andava de bicicleta
– ou até de velocípede – pelo local. Tomava café e comia bolo com os moradores.
Vestia sua bota para entrar em um córrego que precisava de dragagem. Dirigia
carro por uma via cheia de lama. Subia em árvore, entrava no matagal. Tudo para
mostrar a realidade do povo fluminense – que sempre a acolhia com carinho e
alegria.
"É o meu jeito de trabalhar, podem ou não gostar. Sou
muito feliz fazendo, me sinto em casa. No outro dia, minha filha falou: ‘Mãe,
sua blusa estava toda suada’. Respondi: 'Filha, estava gravando em Bangu,
meio-dia, não vai ter suor?'. Tem suor, tem o cafezinho. Se eu tiver andando e
tropeçar, vai entrar o tropeço. Se eu sentar na calçada pra falar com alguém,
vai mostrar. Ah, esse ângulo tem mais sol do que o outro? Não tem problema, é
ali que a gente está", disse em uma entrevista para o Memória
Globo.
Por onde ia, era reconhecida e ouvia pedidos para que
visitasse os locais para ajudar melhorar as condições da população.
Luta contra o câncer
Filha de Susana Naspolini posta despedida — Foto: Reprodução
Moradora do Rio, a repórter da TV Globo passou os últimos
dias internada em um hospital particular de São Paulo, onde os médicos tentaram
reverter a evolução de seu quadro de saúde.
Na sexta-feira (21), Julia Naspolini, filha única de Susana,
usou as redes sociais da mãe para pedir que amigos, parentes e fãs da
jornalista rezassem por sua recuperação. Segundo Julia, o estado de saúde de
Susana era "gravíssimo" e os médicos já "não sabiam o que
fazer".
Desde março deste ano, Naspolini enfrentava o câncer pela
quinta vez. Na época, ela anunciou que a doença não estava regredindo com o
tratamento via oral, e que precisaria fazer uma quimioterapia venosa.
A repórter Susana Naspolini — Foto: Reprodução redes sociais
De acordo com Julia, desde então, o câncer evoluiu e se
espalhou por outros órgãos do corpo, principalmente pelo fígado.
A primeira vez que Naspolini enfrentou um câncer foi em 1991,
quando a jornalista se tratou de um linfoma, aos 18 anos. O tratamento durou
cerca de um ano.
No início de 2010, os médicos encontraram um nódulo maligno
na mama direita. No final do mesmo ano, outro tumor, dessa vez na tireoide. Nos
dois casos, a descoberta precoce foi determinante para que a doença regredisse.
Em 2016, Naspolini enfrentou mais um câncer de mama. Por fim,
o câncer na bacia, que se espalhou por outros órgãos.
Perfil
Susana Naspolini — Foto: Reprodução/Instagram
Susana Dal Farra Naspolini Torres nasceu no dia 20 de
dezembro de 1972, em Criciúma, Santa Catarina. Em 1990, percebeu que seu futuro
estaria ligado à comunicação.
Cursou Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), em Florianópolis. Com um ano de faculdade, a futura repórter conseguiu
uma vaga no Tablado, um dos cursos de teatro mais tradicionais do país, que
fica no Rio de Janeiro. Trancou os estudos e decidiu morar na capital
fluminense para tentar a carreira de atriz.
Na primeira batalha contra o câncer, em 1991, Susana retornou
para Santa Catarina, onde retomou o curso de Jornalismo e começou a carreira em
emissoras de TV do estado. Do teatro, ela conseguiu levar a espontaneidade
diante do público, sua principal marca anos mais tarde.
Bom humor como marca registrada
Susana Naspolini montagem — Foto: Reprodução
Em 2002, a jornalista foi contratada temporariamente como
repórter da GloboNews, onde ficou até 2004. Antes de ganhar
destaque como apresentadora do RJ Móvel, do RJ1, Naspolini passou
pelo Canal Futura, pela produção da Editoria Rio, da TV Globo, e
pela equipe de reportagem dos telejornais Bom Dia Rio e RJTV.
Entre quadros e séries que ajudou a produzir para os jornais
locais do Rio, Naspolini participou do “Disque-Reportagem” (2005), “Direito do
Cidadão” (2005), “RJ nas Escolas” (2007), “Túneis” (sobre o estado de túneis do
Rio de Janeiro, 2006), “Ônibus do RJ” (2006) e “Ensino Público de Qualidade”
(2007).
Em 2008, um rodízio com outros repórteres fez com que ela pintasse pela primeira vez no quadro RJ Móvel. A passagem pelo programa mudou completamente a carreira da jornalista.
Susana Naspolini usa de bom humor para chamar atenção para problemas do Grande Rio — Foto: Reprodução/Globo
O projeto tinha como características percorrer bairros e
municípios da região metropolitana e denunciar problemas que preocupavam a
população. O objetivo do quadro era cobrar as autoridades responsáveis e marcar
em um calendário a data de retorno da reportagem para ver se o problema tinha
sido resolvido.
O quadro virou sucesso no Rio de Janeiro e projetou Susana
para o Brasil.
A persistência da repórter era outro grande trunfo para o RJ
Móvel. Em uma situação, Susana retornou 18 vezes à comunidade da Muzema, na
Zona Oeste, para denunciar um alagamento de esgoto. Em 31 de outubro de 2019, a
repórter chegou a pendurar ao vivo uma melancia no pescoço para que, “quem sabe
assim, a prefeitura enxergue” a lama que prejudica a vida dos moradores.
Susana Naspolini se afastou do RJ Móvel em 2009, 2016 e 2020
para fazer tratamento de câncer, em São Paulo.
Em maio de 2017, a jornalista assumiu outro desafio, para
tocar em paralelo com o RJ Móvel. Susana passou a apresentar o Globo
Comunidade, um boletim informativo com material produzido pelas editorias
locais, que vai ao ar na manhã de domingo.
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