Anvisa proibiu a distribuição, fabricação, manipulação, propaganda e uso de todos os lotes do medicamento Metbala. Medida foi adotada porque o produto não tem qualquer tipo de regulação.
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Tadalafila está entre os remédios mais vendido do Brasil — Foto: Reprodução/TV Globo |
A tadalafila é um medicamento conhecido para tratar disfunção
erétil. Ela pertence à mesma classe da sildenafila (Viagra), de
inibidores da enzima fosfodiesterase tipo 5 (PDE-5). A substância é vendida sob
nomes como Cialis e Adcirca, e também tem usos aprovados para hiperplasia
prostática benigna e hipertensão arterial pulmonar (HAP).
Na quarta-feira (14), a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) publicou uma resolução que proíbe a distribuição,
fabricação, manipulação, propaganda e uso do medicamento Metbala, bala
gummy à base de tadalafila. Em nota, a agência destacou que a medida foi
adotada porque o produto não tem qualquer tipo de regulação.
O uso da tadalafila no Brasil ganhou ainda mais destaque após
ser mencionado por celebridades e descrito até mesmo em letras de músicas
populares. No entanto, entidades como o Conselho Federal de Farmácia (CFF)
e órgãos de saúde pública alertam para o uso recreativo indevido da substância —
o que pode trazer riscos importantes à saúde, especialmente sem acompanhamento
médico.
A Anvisa reforçou, em nota, que a tadalafila é um medicamento
sujeito à prescrição médica e que seu uso depende de avaliação clínica sobre
condições específicas do paciente.
“Cuidado! A automedicação coloca sua vida em risco. Esses produtos não são inofensivos. Quem faz a propaganda de produtos irregulares também comete infração sanitária e está sujeito a penalidades, incluindo multas”, informou a agência reguladora.
Como age e quando é indicada
A tadalafila relaxa os vasos sanguíneos e aumenta o fluxo de
sangue, facilitando a ereção durante a estimulação sexual. Além da disfunção
erétil, também pode ser indicada para:
- Hiperplasia
prostática benigna (HPB): alivia sintomas como jato urinário fraco e necessidade
de urinar várias vezes à noite;
- Hipertensão
arterial pulmonar (HAP): melhora a capacidade funcional em pacientes com
pressão elevada nas artérias pulmonares (em formulação específica).
No caso da HAP, a Conitec recomendou não incorporar o
medicamento ao SUS, após avaliar que não há superioridade clínica frente à
sildenafila e que o custo por paciente seria significativamente mais alto.
Popularidade e riscos do uso indevido
Um relatório da consultoria Close-Up International, divulgado
pela BBC, aponta que a tadalafila ficou
em terceiro lugar entre as moléculas mais vendidas no ano de 2024, atrás apenas
de losartana e metformina. Levantamento feito pela Anvisa mostrou que foram
vendidas 21,4 milhões de caixas de tadalafila no país em 2020. Três anos
depois, esse número havia subido para 47,2 milhões.
A substância virou tema de músicas, sendo a canção
“Tadalafila”, lançada por Os Barões da Pisadinha e Alanzim Coreano, uma das
mais virais: “Sabe qual é o segredo pra aguentar a noite todinha? Tadalafila!
Tadalafila!”
Especialistas apontam que esse tipo de conteúdo pode
incentivar o uso recreativo e sem prescrição, especialmente entre homens jovens
saudáveis, o que representa um grave risco à saúde pública. De acordo com o
CFF, o crescimento da exposição midiática coincidiu com um aumento de 38,9% nas
vendas do medicamento em 2023.
Uso nas academias e mito do ganho muscular
Nos últimos anos, a tadalafila passou a ser usada por
frequentadores de academias — homens e mulheres — como um suposto aliado no
ganho de massa muscular, embora não haja comprovação científica que sustente
essa finalidade.
A justificativa para esse uso fora da bula parte da ideia de
que a substância promoveria relaxamento do endotélio, a camada interna das
artérias, favorecendo o aumento do fluxo sanguíneo durante o exercício. Esse
aumento da irrigação nos músculos seria, segundo essa teoria, um estímulo para
a hipertrofia.
Em fevereiro, o Profissão Repórter conversou com médicos que
prescrevem tadalafila para a prática de exercícios.
“Se houver documentação que ele prescreve só para fazer exercícios, esse colega está incorrendo em falha ética, o que é passível de punição e não está seguindo nenhum protocolo, nenhuma norma de boas práticas médicas que demonstre que ele está fazendo o melhor pelo paciente dele”, afirma Joaquim Francisco de Almeida, coordenador da Câmara Técnica de Urologia do CREMESP.
Gummy de tadalafila — Foto: Reprodução / Redes sociais |
Efeitos adversos e contraindicações
O uso da tadalafila pode causar:
- Dor
de cabeça, dor nas costas, rubor facial, dores musculares, congestão nasal
e indigestão;
- Efeitos
graves como priapismo, perda de audição ou visão, queda de pressão
arterial e eventos cardiovasculares.
É contraindicada para:
- Pacientes
que utilizam nitratos (para angina, por exemplo);
- Indivíduos
com doença cardíaca que contraindique atividade sexual;
- Pessoas
com hipersensibilidade à substância.
"O paciente de qualquer idade, jovem, adulto ou mesmo um
senhor de idade, que não tem nenhum tipo de disfunção erétil, a droga é
absolutamente contraindicada", explica Joaquim Francisco de Almeida,
coordenador da Câmara Técnica de Urologia do Cremesp.
“É importante lembrar que a tadalafila não deve ser usada por
todos os homens, especialmente aqueles que têm problemas cardíacos ou que tomam
medicamentos contendo nitratos. O uso desse medicamento deve ser sempre
prescrito e os pacientes devem seguir cuidadosamente as instruções de dosagem e
administração sob orientação do farmacêutico”, afirma a conselheira federal de
Farmácia de Sergipe, Fátima Cardoso.
Prescrição obrigatória e risco de dependência psicológica
A tadalafila é um medicamento de tarja vermelha e exige
receita médica obrigatória. O uso sem avaliação profissional — motivado por
modismos ou busca por desempenho sexual — pode mascarar doenças de base e levar
à dependência psicológica.