Condição pode acometer pessoas de todas as idades e deve ser combatida de imediato; a cada dez minutos, chance de sobrevivência diminui em 10%
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Mulher morre dentro de academia Crédito: Reprodução / TV Bahia |
A morte de uma mulher de 40 anos enquanto fazia um exercício
dentro de uma academia no município de Santo Estêvão, no centro-norte
baiano, foi provocada por um mal súbito. O caso ocorreu na última
segunda-feira (17) e chamou atenção pela rapidez com que tudo aconteceu.
Imagens da câmera de segurança mostram quando Francineide Pereira Soares usa a
cadeira extensora, aparelho para fortalecer o quadríceps, e passa mal. A
velocidade dos acontecimentos, no entanto, é comum ao evento, segundo
especialista.
Por definição, o mal súbito é um evento inesperado. Não há
sinais prévios a ponto de dar tempo ser atendido antes de acontecer, mas há
como detectar na hora que acontece e evitar a morte súbita – ela geralmente
acontece em até 24 horas após o aparecimento do mal-estar.
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De acordo com o médico cardiologista Luiz Ritt, a condição
normalmente surge acompanhado da perda de consciência. Ele aponta que, quando
alguém se encontra inconsciente inesperadamente, é preciso considerar a
possibilidade de que ela esteja sofrendo uma parada cardíaca.
O primeiro sinal é a queda abrupta, como aconteceu com
Francineide na academia, que se inclinou na cadeira extensora, colocou a mão na
cabeça e, em seguida, desmaiou. O médico alerta que isso é muito suscetível de
ocorrer também com atletas de futebol. Quando a queda ocorre sem que eles
tenham tido contato ou choque com outra pessoa durante a partida, é preciso
agir ainda mais rápido. A busca por ajuda, no entanto, vale para qualquer
pessoa encontrada nessa circunstância.
“É preciso iniciar as manobras de ressuscitação cardíaca,
chamar o Samu (192) e, se estiver em um local com desfibrilador, uma pessoa com
treinamento básico pode fazer o uso desse aparelho. Se for feito tudo
corretamente, tudo isso pode mesmo salvar uma vida”, diz Luiz Ritt.
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Outros sinais para identificação do mal súbito são: dor no
peito, falta de ar, dificuldade para falar ou compreender a linguagem,
fraqueza, tonturas, palpitações, desmaio, paralisia do rosto e da perna num dos
lados do corpo, perda ou obscurecimento da visão, perda do equilíbrio ou
coordenação e dor de cabeça intensa.
Após um minuto, a cada minuto sem adoção de medidas para
ressuscitação cardíaca, as chances de recuperação caem 10%. “Depois de até 10
minutos sem um adequado cuidado, as chances de recuperação são quase nulas. Às
vezes, o paciente pode até recuperar, mas pode haver sequelas. Por isso, é
importante que se tenha um reconhecimento e cuidado imediatos”, frisa.
Quem tem maior risco de sofrer de mal súbito?
O mal súbito pode acometer qualquer pessoa, independentemente
de idade, sexo ou estilo de vida. No entanto, alguns grupos estão mais
suscetíveis ao evento. Eles são compostos por:
1) Pessoas que já tenham tido algum problema de coração
“Pode ser um indivíduo que tem uma cardiopatia, que é um
coração crescido, que tenha uma insuficiência cardíaca ou que já tenha tido
infarto e tenha uma cicatriz no coração. Existem também algumas alterações
geneticamente determinadas nos corações que podem estar relacionadas a maior
chance de arritmias e, por conseguinte, de um mal súbito”, afirma Luiz Ritt.
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2) Pessoas com histórico familiar de mal súbito
Pessoas que têm uma história na família de alguém que teve um
mal súbito, que morreu subitamente ou que teve um mal súbito e foi ressuscitado
precisam fazer exames para poder verificar se têm alguma alteração ou não do
coração. Se a resposta for positiva, há chances aumentadas de ter um mal
súbito.
3) Pessoas que usam anabolizantes e outras substâncias que
aceleram o coração
Quem não tem problemas de coração, mas usa substâncias como
hormônios e estimulantes, principalmente aqueles que aumentam a frequência
cardíaca ou que têm o intuito de elevar o metabolismo, corre risco de sofrer um
mal súbito. O mesmo ocorre com pessoas que fazem uso de medicação de forma
inadequada
Um fator de risco, segundo o cardiologista, é quando há um
estímulo externo diante desse contexto. “Digamos que o indivíduo está tomando
um produto hormonal ou uma substância termogênica e ele tem um coração normal.
Se ele vai fazer atividade física, se coloca numa intensidade maior, ele pode
ter um mal súbito, mesmo com o coração a priori normal”, alerta.
4) Homens idosos
Há maior risco de mal súbito acometer homens entre 60 e 70
anos. Nessa faixa etária, 60% dos casos estão relacionados à doença arterial
coronariana, ou seja, à obstrução das artérias do coração.
Atletas de alto rendimento estão sob risco?
Os casos de atletas que morreram em decorrência de mal súbito
têm chamado atenção nos últimos dias. No Brasil, houve dois casos de destaque.
O mais recente é de um atleta de futsal de 27 anos, que faleceu após parar o
treino para amarrar o cadarço e passar mal, na última terça-feira (18). Vander
Júnio Camilo Mesquita jogava em Minas Gerais e foi detectado com um mal
súbito. Há menos de uma semana, o atacante Gabriel Popó, de 26 anos, do XV de
Jaú, também morreu de mal súbito no alojamento do time, antes de uma partida de
futebol.
Apesar de não estarem inseridos no grupo de risco, o
cardiologista Luiz Ritt afirma que os atletas expostos a exercícios de alto
rendimento podem estar mais suscetíveis ao mal súbito, desde que tenham tido
uma infecção cardíaca. “Por isso, é importante que quem vai fazer exercícios de
alta intensidade façam uma avaliação cardiovascular mais pormenorizada,
principalmente aquele que tenha alguma história familiar”, orienta.
Quem faz atividade física de maior intensidade e começa a
perceber alguns sintomas diferentes, como queda de rendimento e mal-estar
durante um exercício, também precisa fazer uma avaliação. O especialista
destaca que em pessoas com menos de 35 anos, as causas mais prováveis – apesar
de raras – de mal súbito são as genéticas. Acima de 35 anos, as causas costumam
estar mais relacionadas a infartos e problemas de coração.
Fonte: Correio 24 horas