Uruguaio Lacalle Pou é o presidente com melhor salário em
termos absolutos; Lula está em 8º lugar
Onze líderes da América Latina se reuniram, em 2023, para uma cúpula, tendo como anfitrião o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva | Foto: DW / Deutsche Welle |
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ganha menos que um terço do salário dos presidentes do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e da Guatemala, Bernardo Arévalo. Embora os três países façam parte da América Latina, as diferenças são grandes.
E para entender essa disparidade de salários presidenciais na
região é importante comparar o salário do presidente com o salário mínimo do
país. "Esse é um indicador interessante, pois é possível observar o nível
de preços, as diferenças de renda e definir onde os presidentes realmente
ganham mais ou menos", explica Javier Rodríguez Weber, professor da
Universidade da República (UdelaR), do Uruguai.
De acordo com a plataforma de notícias Bloomberg Línea, a
Costa Rica tem o salário mínimo mais alto da região: US$ 710, seguida de
Uruguai (US$ 580), Chile (US$ 520), México (US$ 445), Guatemala (US$ 420),
Bolívia (US$ 342), Colômbia (US$ 335), Honduras (US$ 329), Panamá (US$ 326) e
Brasil (US$ 283). O salário mínimo mais baixo dos países considerados para o
estudo é o da Argentina, com US$ 182 por mês.
Levando em conta o indicador comparativo usado pelo professor
Rodríguez Weber, verifica-se que, na Guatemala, o presidente Bernardo Arévalo
ganha 46 vezes o salário mínimo mensal do país.
Ele é seguido pelo presidente uruguaio Luis Lacalle Pou, cuja
renda mensal é 40 vezes maior que a renda mínima para a população.
Em seguida, vem Gustavo Petro, presidente da Colômbia, que
recebe um salário equivalente a 30 vezes o salário mínimo colombiano. Javier
Milei, por sua vez, ganha 26 salários mínimos argentinos, e os presidentes
Andrés Manuel López Obrador (México) e Luiz Inácio Lula da Silva têm uma
remuneração mensal de cerca de 22 vezes o salário mínimo em seus respectivos
países.
Veja o ranking abaixo:
DO URUGUAI À BOLÍVIA, UMA ENORME DIFERENÇA
Todos os anos, cada país aprova uma lei orçamentária geral do
Estado, que estabelece os salários de seus líderes e ministros. Esses dados são
de livre acesso na maioria dos casos.
Por exemplo, o presidente do Uruguai recebe um salário mensal
bruto de US$ 22.288,67 (cerca de R$ 112 mil). No outro extremo está o
presidente da Bolívia, Luis Arce, que recebe US$ 3.013,64 por mês
(aproximadamente R$ 15 mil).
Ricado Torres Pérez, economista e pesquisador do Centro de
Estudos Latino-Americanos da Universidade Americana em Washington, explica que
essa enorme diferença salarial se deve, entre outros fatores, ao "Uruguai
ter um dos PIBs per capita mais altos da América Latina, enquanto a Bolívia tem
sido historicamente um país muito mais pobre do que o Uruguai".
Da mesma forma, o especialista ressalta que, no caso da
Bolívia, as reformas promovidas pelo ex-presidente Evo Morales devem ser
levadas em conta nessa análise comparativa.
"Morales foi um presidente austero e, talvez num país
como a Bolívia, mergulhado há anos na pobreza, Evo tenha tentado promover uma
transformação com ênfase nas questões sociais. Ele queria estabelecer salários
no setor público que mostrassem que os fundos alocados ao governo estavam sendo
usados corretamente e não para enriquecer políticos".
INDICADORES MACROECONÔMICOS A SEREM LEVADOS EM CONTA
De acordo com Rodríguez Weber, ao falar sobre essas
diferenças salariais, é essencial analisar o tema a partir de indicadores
macroeconômicos, pois os países latino-americanos têm níveis de preços
diferentes.
"O Uruguai é um país mais caro do que a Bolívia, por
exemplo. Quando são feitas comparações internacionais, falamos de dinheiro em
paridade de poder de compra, ou seja, não comparamos dólares, porque com 100
dólares na Bolívia eu compro muito mais do que com 100 dólares no
Uruguai", esclarece.
Torres Pérez acrescenta que o tamanho da economia e o PIB per
capita determinam, de certa forma, os salários de cada presidente, bem como os
de outros funcionários públicos.
"Os países com PIB per capita mais alto têm níveis
salariais melhores porque é assim que o mercado de trabalho funciona em geral,
embora haja obviamente diferenças que têm a ver com questões como a estrutura
jurídica ou institucional, as leis de cada país, entre outros fatores".
O CASO DE CUBA
Segundo Torres Pérez, que também é ex-acadêmico do Centro de
Estudos da Economia Cubana (CEEC), há pouquíssima transparência sobre a vida
dos líderes em Cuba.
"Assim como na Venezuela, não há informações públicas
sobre os salários de Fidel Castro e de seu irmão Raúl Castro, que o substituiu
no cargo". Também não há dados sobre a renda do atual presidente de Cuba,
Miguel Díaz-Canel.
"Esse tipo de informação não existe. O mais próximo que
se pode chegar é o item de despesa declarado no escritório Nacional de
Estatística e Informação (ONEI)", diz Mónica Baró Sánchez, redatora da
revista digital El Estornudo.
"Em Cuba não há informação oficial sobre nada que
comprometa financeiramente as instituições. A única coisa que existe como banco
de dados anual é um relatório geral feito pela ONEI, mas os salários dos
funcionários públicos não aparecem lá", explica a jornalista Lianet
Fleites.
A DW, após consultar relatórios da ONEI e várias edições do
Diário Oficial de Cuba, não encontrou nenhum dado que revele o salário de
Miguel Díaz-Canel ou de qualquer ministro que compõe seu governo.
Fonte: Folha de São Paulo
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