O papa exerce influência política e religiosa, representando a continuidade da fé católica no mundo
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Papa — Foto: Gregorio Borgia/AP |
O papa é a principal figura política
do Vaticano e o líder da Igreja Católica no
mundo todo. Ainda assim, o sumo pontífice não tem salário fixo,
e sim uma provisão de suas despesas custeada pelo Instituto para as Obras de
Religião, o nome do Banco do Vaticano.
De acordo com Fernando Roberto de Freitas Almeida,
coordenador de Relações Internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos da
Universidade Federal Fluminense (UFF), o falecido papa Francisco, por
exemplo, tinha direito a uma remuneração mensal, porém optou por não a receber.
“O papa Francisco possuía o direito de receber US$ 32.000,00
mensais como remuneração do Vaticano, devido ao cargo de sumo pontífice, porém
optou por não utilizar, pois levou a sério os seus votos de pobreza desde
quando assumiu o papado”, afirmou.
Almeida explica que aproximadamente 50% dos recursos do Banco
do Vaticano são derivados de doações, denominadas de Óbolo
de São Pedro. Essas doações são voluntárias e vêm dos fiéis da Igreja
Católica em todo o mundo.
O restante da renda do Banco do Vaticano provém de
investimentos imobiliários na Europa, da venda de selos e moedas — que diminuiu
muito nos últimos anos por conta do crescimento da internet —, além dos
ingressos para museus e visitas guiadas.
O especialista ainda ressalta que o papa Francisco foi uma
figura fundamental em relação à transparência desses recursos para os mais de
1,4 bilhão de fiéis que a Igreja Católica tem espalhados pelo mundo.
“Francisco procurou regular o Banco do Vaticano durante seu
papado, uma vez que as ações do banco eram muito soltas, com a presença de
investimentos negativos e desvios constantes.”
Qual a importância do dízimo?
Filipe Domingues, especialista em Vaticano e professor de
Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Gregoriana, explica que o dízimo é
um princípio da tradição judaica que passou por inúmeras interpretações
distintas ao longo da história, mas que hoje não é uma exigência rígida
solicitada na Igreja.
“Hoje, o que a Igreja Católica pede é que uma parte da sua
renda seja destinada à Igreja. Porém, não há uma exigência rígida de que seja
10%, mas sim uma solicitação de contribuição, pois os sacerdotes não possuem
outra fonte de renda e precisam se sustentar”, afirmou.
Já Fernando explica que os dízimos ainda são relevantes no
Óbolo de São Pedro e, consequentemente, para o Banco do Vaticano, mesmo que em
muitas paróquias não haja um discurso de caráter obrigatório.
Qual a função política e religiosa do papa?
Como o Vaticano é um território independente, o papa possui
funções administrativas ligadas ao território geográfico, além de ser o
principal líder da Santa Sé.
Domingues explica que, politicamente, o papa possui a
capacidade de influenciar importantes decisões no cenário internacional, por
meio de posicionamentos baseados em valores e virtudes, por ser uma enorme
referência moral.
Religiosamente, o papa é o principalmente o líder da
Igreja Católica mundial. Segundo Domingues, isso deriva da visão católica, que
reconhece no apóstolo Pedro a continuidade da Igreja fundada por Jesus Cristo.
Pedro, antes chamado de Simão, é considerado o primeiro papa da história, e
todos os que o sucederam representam a continuidade da Igreja e da fé católica
no mundo.
Almeida esclarece que, religiosamente, a figura papal é a
maior autoridade para a definição de discussões teológicas e de propostas de
alterações nos rituais da igreja.
Crédito: Valor Globo