Imagens das câmeras corporais dos agentes que atiraram contra
Gabriel Ferreira Messias da Silva, morto por policiais militares em novembro de
2024 durante uma abordagem na Zona Leste de São Paulo, mostram toda a ação dos
agentes.
Um relatório da Defensoria Pública de São Paulo aponta que o
jovem não estava armado no momento em que foi baleado. Na versão apresentada no
boletim de ocorrência, os policiais afirmaram que dispararam contra Gabriel
para se defender alegando que ele teria apontado uma arma para os agentes.
Dois PMs que participaram da ação estão afastados
temporariamente.
Gabriel foi abordado ao sair de um posto de combustíveis e fugiu. Ele teria caído na esquina das ruas Belém Santos e Colônia Leopoldina, na Vila Císper.
Momento em que PM atira contra Gabriel. — Foto: Reprodução/ TV Globo |
Gravações das câmeras corporais dos agentes mostram a
perseguição e o momento em que um PM atira contra Gabriel, que cai no chão. Quando
os agentes se aproximam, o jovem ainda está vivo e pede ajuda:
"Sou trabalhador, senhor. Pra quê fazer isso comigo, meu Deus? Me ajuda, por favor", disse.
Agentes abordando Gabriel. — Foto: Reprodução/ TV Globo |
Um dos policiais questiona se a moto é roubada, e Gabriel
responde que não. Minutos depois, um agente diz: "Vira, vira, vira".
Segundo a Defensoria Pública, esse momento foi usado para
desviar o ângulo das câmeras. Ainda conforme o órgão, nenhuma arma, além das
dos policiais, aparece nos vídeos. As imagens mostram o sargento Ivo Florentino
dos Santos, chutando uma arma no chão, segundos antes de localizá-la próxima ao
corpo de Gabriel.
De acordo com a versão dos policiais, Gabriel teria sacado
uma arma ao se levantar, o que teria motivado o disparo.
No entanto, o relatório da Defensoria, baseado nas imagens
das câmeras corporais dos agentes, indica que não havia arma na cena
imediatamente após o disparo.
"Vendo essas imagens, a Defensoria alertou o Ministério Público, que pediu o afastamento cautelar dos policiais das operações de rua. Há algo estranho, alguma inconsistência na versão apresentada pelos policiais. É o que mostram as câmeras corporais", afirma Andrea Barreto, defensora pública do caso.
Arma supostamente implantada na cena do crime. — Foto: Reprodução/ TV Globo |
A mãe de Gabriel, Fernanda Ferreira da Silva, teve acesso às
imagens.
"Elas mostram nitidamente que, em volta do Gabriel, não
tem arma nenhuma. Depois, mostra o policial que atirou nele falando; 'Vira,
vira, vira', que é quando eles viram a câmera para a parede. Quando a câmera
volta, mostra a arma no chão", disse.
Gabriel trabalhava como entregador e era conhecido por sua
família e amigos. A morte dele é investigada pelo Departamento de Homicídios e
Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil, onde a mãe atua como recepcionista.
A Secretaria da Segurança Pública informou, por nota, que a
Polícia Civil investiga o caso sob sigilo e que o inquérito da Polícia Militar
foi concluído e encaminhado. A pasta afirmou ainda que não compactua com
desvios de conduta e que pune com rigor comportamentos excessivos, “como a
sociedade espera”.
Gabriel foi morto em novembro de 2024. — Foto: Reprodução/ TV Globo |