A crise, que antes parecia apenas administrativa, agora ameaça diretamente a estrutura física
Valdemiro Santiago (Reprodução)
A Igreja Mundial do Poder de Deus, liderada pelo apóstolo
Valdemiro Santiago, enfrenta mais um capítulo turbulento em sua trajetória: a
Justiça determinou o despejo da instituição de um imóvel localizado em Santo
Amaro, na zona sul da capital paulista.
O espaço, com impressionantes 46 mil metros quadrados e
capacidade para abrigar até 20 mil pessoas, foi alvo de uma ordem judicial emitida
pela Justiça do Pará, após a constatação de uma dívida superior a R$ 4,1
milhões, referente a aluguéis atrasados, encargos e correções.
O prazo concedido para a desocupação voluntária do imóvel era
de 15 dias a partir da intimação judicial. No entanto, esse período expirou na
última sexta-feira, 30 de maio, e agora a Justiça de São Paulo deve ser
acionada para cumprir a decisão e efetivar o despejo de forma forçada, se
necessário.
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A origem do imbróglio envolve a própria história do imóvel,
que já pertenceu à Igreja Mundial, mas foi transferido à empresa SM
Comunicações em setembro de 2022 como parte de um acordo para quitação de
dívidas. Em seguida, foi assinado um contrato de locação por 18 meses, com
valor mensal de R$ 600 mil — acordo que, segundo os autos, não foi
integralmente cumprido pela instituição religiosa.
Posteriormente, o imóvel foi novamente repassado, dessa vez à
empresa Miranda Participações, também sediada em Belém, no Pará, o que levou o
processo a tramitar na Justiça paraense. A decisão foi assinada pela juíza
Vanessa Ramos Couto, da 1ª Vara Cível e Empresarial de Belém.
Nos documentos do processo, a Igreja Mundial contesta a
legalidade da transferência da propriedade e afirma que houve “pressão
psicológica” no momento da assinatura do contrato. Alega ainda que o local não
é apenas um templo, mas também funciona como residência pastoral, abrigando
cerca de 15 famílias. Em sua defesa, sustenta que a desocupação do espaço
afetaria atividades religiosas e comprometeria o bem-estar de seus membros.
Embora a primeira ordem de despejo tenha sido emitida ainda
em outubro de 2024, a igreja vinha conseguindo protelar a execução por meio de
recursos e suspensões judiciais — em dois momentos, inclusive, conseguiu
estender o processo por 180 dias.
Contudo, essa não é a única batalha jurídica da instituição.
Acusada de repetir o mesmo padrão de inadimplência, a Igreja Mundial acumula
centenas de processos por falta de pagamento de aluguéis. Só no estado de São
Paulo, já são 686 ações registradas contra a entidade, conforme apuração do
portal UOL.
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As pendências financeiras da instituição também se estendem à
esfera federal. De acordo com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN),
a igreja possui uma dívida ativa de R$ 480 milhões com a União, somando débitos
tributários, previdenciários e trabalhistas. Entre os principais valores,
destacam-se:
Dívidas tributárias diversas: R$ 192,1 milhões
Débitos previdenciários: R$ 278,5 milhões
Multas trabalhistas: R$ 1,6 milhão
FGTS em atraso: R$ 7,2 milhões
Em junho de 2022, em uma tentativa de negociar parte desses
valores, a igreja chegou a oferecer como garantia a sede localizada no Brás,
também em São Paulo.
Enquanto a instituição enfrenta uma avalanche de cobranças e
decisões judiciais, cresce a pressão sobre sua liderança, especialmente sobre
Valdemiro Santiago, que também figura como réu em diversos processos
relacionados às finanças da igreja. A crise, que antes parecia apenas
administrativa, agora ameaça diretamente a estrutura física e a continuidade
das atividades da denominação em uma de suas principais bases.